Espectros
Autor Desconhecido
Sinto um estranho frio dentro de mim.
A calma da rua invade o meu quarto,
Vejo tudo como pela primeira vez...
Toda esta paisagem familiar.
Familiares são também os rostos,
Acenam à distância,
Fazem parte deste local,
Mas só aqui pertencem,
A este quadro fosco.
Reconheço-os um a um.
Estranha doçura que rememoro,
Dias noites, fantasias,
Fomos um grupo,
Crianças com rebeldias.
Crescemos no espaço, e no tempo...
Na distância que nos separa.
Tornámo-nos frios, ausentes, cépticos,
Com a vida descontentes,
Perdemos toda a inocência,
Ingenuidade real, perdido tudo isso...
E o que temos agora?
Rasuradas as semelhanças,
Já nada nos aproxima.
Recordamos apenas em sonhos as lembranças,
E tornámo-nos como os outros, em nadas!
Tivemos cumplicidades, amizade,
Tivemos alegrias, fazíamos magias!...
Afastámo-nos...
Hoje temos apenas as nossas memórias
Com um sentimento amargurado pelo tempo
E que nada é capaz de atenuar.
Somos as páginas amareladas de um livro,
Somos um doce esquecido, apodrecido,
Somos todo o inverso do que fomos,
Fomos felizes e hoje, já nem isso sozinho somos.
Fecho então a janela do meu quarto,
Fecho a mente aos fantasmas do passado.
Seria bom em tempos tê-lo roubado,
Para o viver agora, que sei que foi bom.