Estranhamente Lúcida
Autor desconhecido
Quando as linhas do pensamento se intersectam com as da razão, nada é surpreendente. Mas quando a razão afoga o sonho, a vida e a esperança, tudo se torna numa desmesurada ânsia de deixar de parte aquilo que em mim teima em respirar, em sentir racionalmente cada emoção. A morte respira o mesmo ar que eu, e eu respiro cada vez menos. O ar é drenado, a vida é fastidiosamente saturada e eu... eu receava tudo o que desconhecia. Mas, o que conheço eu realmente, agora ? O que é que eu conheço para recear algo em especial ?...
Pensamentos incontornáveis, violadores de mentes sãs. Uma tentativa frustrada, uma evasão efémera. Pensamentos, contestam uma lucidez já de si esgotada com confrontos com a realidade opressiva. Anseio pela fuga.... sem escapatória possível a este tormento que eu mesma me inflijo.
Colho um novo dia , pego em tudo o que me é animador, em troca de um sorriso esforçado no meu espelho. Cerco-me de pessoas, sombras histéricas de tudo o que eu não consigo ser, não me compreendem, ou eu não as compreendo... Acaba por ser apenas mais um dia, como tantos outros. As garras da vida já não me aliciam como antigamente, caminho para um estado sereno dentro de mim. Desligo a minha ficha deste mundo ocioso. A aclamada liberdade explode em mim, os laivos de dor arranham-me a alma, ... mas .... que dor??!
Não há dor neste plano, aproximo-me involuntariamente de um precipicio tentador, a vontade de ser una com ele transpõe qualquer dor.
Contudo, um novo dia amanhece.
Dementia, Fevereiro de 1999