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Nome: Dementia

Idade: Uma alma velha para o Sol

Aprecio: Musica Literatura Escrita Lua Mar Excentricidade Senilidade Embriaguez

Dispenso: Emaranhados de Pessoas Sufocantes Cinismo Hipocrisia e Afins Estereotipos Tudo o que seja propositado para me enervar

Sou:Louca Histérica Calma Paciente Paradoxo de mim mesma nos enleios caóticos de mim Teimosa Destrutiva Sonhadora Alucinada Desagregada do presente

Devaneios



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É Natal

O tempo tem teimosamente passado nesta minha dormência resignada. Os dias fogem apressadamente como se tivessem um fabuloso destino a concretizar. Não é assim.
Eu recolho-me dia após dia, tentando dar uma resposta útil a tudo o que faço. Confronto os pensamentos intermitentes que deambulam nos poucos minutos livres que restam nos meus dias. Um após o outro. Seguem-se , passiva e indiferentemente.
Por mais que queira e por maior que seja o amor que me preencha , a minha vida incapacita-me de pensar uma vez que a minha disponibilidade se não é nula , roça esse limiar.
Recordo nostálgica aquilo que foi o ópio da minha boémia , os cafés, as noites, os risos.
Os risos.
Custa-me rir.
Sei que tenho alguém quem me ama , e eu também o amo. Mas sorrir, extenua-me, fatiga-me.
Parece que tudo está automatizado. Criado e não usufruido e que os dias passam, secos, pela frenética monotonia do trabalho. Entristeço-me e não só por isto. Gostava de poder fazer coisas que fazia antigamente. Falar com os rostos familiares com a mesma intimidade de outrora. Mas tudo mudou.
Eu reconheço-me, mas os outros deixaram de me conhecer.Fazem juízos apressados e diagnósticos errados da minha psique. Juízes alucinados que me condenam a uma existência , aos seus olhos, de leviandade e lascividade, imaturidade e ausência de valores. Reconheço os meus erros. Enumero-os na minha cabeça. São a minha cruz de fantasmagóricas feições que me assombra num misto de vergonha e raiva, não só pela minha epifania passada, mas pela reacção de terceiros à mesma.

E hoje é véspera de natal.

Passadas 9 horas num call center rendo-me à saída mecânica mais uma vez marcada pontualmente pelo girar de caracteres num ecrã digital. Ainda me navega no estômago a minha não menos ridicula ceia de natal, composta por um dito "cachorro" (entenda-se metade de uma salsicha num papo-seco de ontem, com ares de ter sido tostado, consumido na única tasca aberta em todo o Saldanha!). Saio do edifício.
A lembrança de tantos anos, pormenores de natais anteriores, desfila na minha cabeça como uma música há muito esquecida. O calor invade-me como se realmente a chuva que cai não me atingisse, e eu não distingo já as lágrimas das finas gotas que perspassam as luzes da cidade à noite.
Sinto falta do abraço da minha mãe , sinto falta de um outro abraço que raras vezes tive e que por quizílias de velhos ( aquelas que passado o tempo já nem nos recorda o motivo pelo qual a discussão se iniciou) tão cedo não se irá repetir. Sinto falta de não me sentir assim tão sozinha.
Desdenho as luzes arcaicas de penduricalhos nas ruas, desdenho as prendas materialistas que por obrigação e não por gosto se trocam. Desdenho tudo o que esta quadra traz. Mas sinto tanta falta de estar com os meus. Sinto uma saudade intensa que me atravessa o peito e se aloja no estômago como que um soluço que me recuso a deixar sair. Podia ser tudo tão diferente. Com todos. Podia ser tudo melhor . Mais que tudo, e com certeza sabeis quem sois, tenho pena de vós.

É Natal...