Efemeridade
Sou papel que esvoaça ao sabor do vento.
Coisa leve que se move, pela força do outro elemento.
Tonta das voltas, dos empurrões, recaio no chão .
E de repente , no instante mudo que se segue, não há quem me levante.
Não há vento que me propulsione.
Não há brisa que me deite ao sonolento abandono do meu voo.
Voltei a ser coisa.
Objecto.
Voltei a não voar, não ter uso, não ter lar.
Voltei a ser o que sempre fui, objecto inanimado.
Imóvel na berma de uma estrada banal largado.
Tendo em mim apenas a memória do tempo em que o vento me soprava alto.
Até ao linear de azul no céu rasgado.
Memória do tempo em que ao invés de coisa, era ser.
Era-o livremente, no sopro fiel do elemento.