Na hora do sono
Acresce ao silencio um murmúrio de somDebita-me na alma um punhado de dorArrasta-se na mente a pesada conscienciaAcorda dormente a memória adormecidaNada fica, nada soa, nada mudaMovem-se as sombras dos companheiros ilusóriosO medo aproxima-se e sorri confianteA solidão abraça e é de gelo o seu toqueA tristeza avança e derruba os espelhos de dorCacos agora cravados na minha peleSão apenas quem me acompanhaSão o ombro em que choroSão tudo o que restaNada mais, nada tenho, nada souE persigo ainda na minha menteOs riscos calcados das veias da vidaEssas que antes latejavam com forçaQue albergavam uma pujança destemidaAgora moles e caídas, veias de vazioVeias de nada cheias, de vazio tingidas
Se te tenho
tenho-te
no instante cego em que os corpos se unem
os pés movem-se
os lábios falam
despertam
beijam
tenho-te
como uma imagem desfocada
um sonho bom
um desenho
(esboço)
um presságio
tenho-te
no incerto daquilo que és
na incerteza do que somos
no complicado que criamos
no simples que podia ser
tive-te
segundos antes dos teus olhos se encobrirem
segundos antes de te afastares
segundos incertos
(sempre o incerto)
estás sempre presente
a cada sorriso,
a cada nota de música
a cada olhar meu
nesse abismo que cresce em ti
e eu
eu espero por ti
sem o saber
desespero como não devia
na ansiedade de saber
se hoje te terei
ou mais algum dia
a vida é realmente curta
e o amor morre sempre na manhã seguinte
No Fim
Acabou
Chegou o dia e a alma está impaciente
A lâmina aperta na carne quente
O sangue brilha no reflexo frio
Jorra depois contínuo, um rio
Terminou
Chegou a calma e o silencio, por fim
Abate-se a terra sobre a madeira
Acaba-se a malvadez e a zombeteira
É finda
Finda a dor que consumia e drenava
Finda a loucura que atormentava
Hoje há só memória, e lágrima
Hoje há só lamúria e mágoa
Hoje todos parámos um momento
Hoje todos te temos em pensamento
Pensámos em ti
Como é raro
Como o fizémos tão pouco
Como nunca lá estivémos
Como tão pouco te valemos
Mas hoje estamos aqui
E quem foste tu?
Não sabemos
Uns choram , outros gritam,
Uns apertam a verdade nula
Outros afagam uma fé ausente
Mas choramos por ti
Quem nunca conhecemos,
Tu que sofreste a sós
Tu que terminaste sem dó
Tu que escolheste o teu destino
Mas choramos histéricamente
Um tu que nunca realmente conhecemos.
Ou rolam as nossas espessas lágrimas
Por pena de nós mesmos?
Metamorfoses
MudamosA velocidades extremas que nos cortam a respiraçãoO que fica?Ficam as palavrasAquilo que cuspimos, muitas vezes sem sentidoAquilo que dizemos com uma certeza mórbida de ser realMas não é. Quase nunca é real.Pairam no ar essas palavrasMesmo depois de ditas.Mesmo depois de as tentarmos esquecerPronunciadas no passado, pairam no presenteMuitas, esperamos em vão que nos sejam repetidas no futuroEm vão.Acabam-se as palavras.Acabam-se as dores.Acabam-se as horas.Mudamos."Change of heart"Mudamos também o que sentimosMetamorfoseamo-nos para nos sentirmos melhorPara melhorar-mos (pensamos nós)O erro que somos.Na verdade.No fim derradeiro.Todos acabamos sufocados,Enterrados nas máscaras que fomos usando,Deitando fora.Há quem volte a usar as máscaras do passado,Muitas já não servem.Muitas ficam presas, Pedaços de pele entre as unhas No esforço de arrancar essa fachada que sufoca.Quando o meu fim chegarQuando me deitar e o meu último suspiro vierQuero apenas as palavras e as carícias.Quero apenas que todas as palavras que me tenham dito Todas as carícias que me tenham feitoMe assolem de rajada na minha memória naquele momentoReais ou não, ao menos saberei que as tive um dia.E acredito que essa úlima memória , essa sinestesiaSerá a única coisa que me trará paz No meu último dia.
Selfishness
Empty handed I reach the lifeless river that flows deep into youI crawl alone the path of doom that once felt like green fields of green grass and sunshine---It's patethic ... And yes. I Am selfish.I am the one and only reason I breatheI am the one and only thing I believe inI am, for me. And I lie tooNot everything is as it seemsNot every sunbeam can wonder forever in the darkAnd this sunbeam has wondered for too longI've gone blind from the long walkNo angels wonder this earthThat is a mythAnd fools are the ones who believe in itI am lucid Or simply InsaneDementia is my middle nameNo more fools are those who believe only in what their eyes seeThan those who believe in everything that lies beneath those shade coloured truthsInsane, aren't we all?I once said I believe and I exist only for myselfThat I am selfishThat I don't dream at allThere are somethings about me you'll never knowThere are feelings I have that no one will ever feelThere is more to this self indulgent life than meets the eyeI am for everyone who'll have me for what I amI'll dream on, neverminding all the rules of wisdom and common senseI'll love like I never loved beforeI already do, in my own tripped wayI already love too muchIn a way that my heart nearly stops when you leaveI love the way you love me back And most of all I love to know I make you feel loved.Selfish these feelings, aren't they?I once said I was self-minded teenage bitchWell, I'm a liar too.
Kafka
Esta e a minha pequerrucha. Depois da morte do Nicky fiquei inconsolavel. Pensei que ele era insubstituivel, e era.Mas eu precisava de uma companhia felina, precisava de voltar a ouvir ron-rons e ter alguma sombra marada a saltar pra cima de tudo a velocidade de anos-luz. E assim fui buscar a Kafka, com a ajuda da Cristina do SOS Bicharada do Barreiro , fui busca-la a casa de uns moldavos que iam retornar ao pais natal, e como teriam de pagar pela estadia da bichana, queriam desfazer-se dela. Assim peguei na menina, e trouxe-a para casa, onde agora e feliz e me faz feliz a mim tambem. Continuo obviamente saudosa do meu Nicky, acho que nunca vou superar a perda do meu menino, mas agora tenho esta pirralha de olho amarelo para tomar conta, espero eu, ate ela ser muito muito velhinha.